O surfe é uma das modalidades esportivas que mais tem atraído novos praticantes nos últimos anos, mas seus primeiros adeptos o viam de forma muito diferente do que hoje, acreditando que a prática seria um culto ao espírito do mar. Para compreender melhor essa transformação, vamos mergulhar na impressionante história do surfe, desde suas origens na Polinésia até sua ascensão global.
Principais Destaques
- As origens do surfe remontam à Polinésia, onde os nativos deslizavam sobre as ondas com pranchas de madeira
- Os missionários cristãos viam a prática do surfe nu como um culto pagão, condenando-a no século 18
- O surfista havaiano Duke Kahanamoku, considerado o pai do surfe moderno, conquistou duas medalhas de ouro olímpicas
- O surfe cresceu exponencialmente na década de 1960, com o lançamento de filmes como “Gidget Goes Hawaiian”
- O surfe se espalhou pelo mundo, chegando ao Brasil e transformando-se em um fenômeno cultural e esportivo
As Origens do Surfe na Polinésia
O ato milenar de surfar com pranchas de madeira teve suas origens na Polinésia Ocidental há mais de três mil anos. Os primeiros surfistas eram provavelmente pescadores que usavam as pranchas de surfe como transporte entre seus barcos e a costa. Acreditava-se na época que a prática do surfe era um culto ao espírito do mar, refletindo uma visão muito diferente do que vemos hoje na cultura surfista.
De acordo com estudos, a civilização pré-colombiana no Peru já praticava uma forma de surfe, utilizando barcos rudimentares chamados “cavalinhos de totora”. Essas embarcações, medindo entre 3 e 4 metros de altura, podiam transportar quase 200 quilos de carga para atividades de pesca e lazer no mar. Ainda hoje, em algumas praias da costa do Peru, como em Huanchaco, os cavalinhos de totora são usados para surfar as ondas.
A origem do surfe remonta a povos polinésios, como os havaianos, samoanos e tahitianos, por volta de 1500 a.C. Essa prática milenar se desenvolveu e evoluiu ao longo dos séculos, até que o surfe moderno surgisse nos anos 1950 e 1960, com o desenvolvimento de novos materiais como a fibra de vidro e poliuretano.
O Ato Milenar de Surfar com Pranchas de Madeira
Os primeiros surfistas provavelmente eram pescadores que usavam as pranchas de surfe de madeira como uma forma de transporte entre seus barcos e a costa. Essa prática milenar refletia uma visão muito diferente do surfe em comparação com a cultura surfista que conhecemos hoje.
A Crença de que o Surfe Era um Culto ao Espírito do Mar
Na cultura polinésia, acreditava-se que a prática do surfe era um culto ao espírito do mar. Essa crença antiga mostra uma perspectiva muito distinta da forma como o surfe é visto e praticado atualmente.
A Chegada do Capitão James Cook ao Havaí
Em 1778, o famoso navegador inglês Capitão James Cook chegou ao Havaí durante sua terceira viagem de descoberta pelo Pacífico Sul. Nessa ocasião, um de seus oficiais, o Tenente James King, registrou em seu diário observações fascinantes sobre os habitantes locais.
De acordo com os relatos do Tenente King, ele viu os havaianos surfando em pranchas de madeira um pouco maiores do que eles próprios. Essa descrição é uma das primeiras evidências documentadas da prática do surfe no Havaí, uma atividade que remonta às origens da cultura polinésia.
“Os nativos são excelentes nadadores e se arriscam muito no mar. Eles usam pranchas de madeira para deslizar sobre as ondas, algumas vezes com grande habilidade e agilidade.”
A chegada de James Cook aos arquipélagos havaianos marcou um ponto de inflexão na história do surfe, pois seus relatos ajudaram a difundir essa prática milenar para o resto do mundo.
Embora a origem do surfe seja incerta, a descoberta de Cook contribuiu significativamente para o reconhecimento e a preservação desta tradição cultural tão enraizada nas ilhas do Havaí.
O Declínio do Surfe no Havaí e a Influência dos Missionários
Após a chegada do Capitão Cook ao Havaí no final do século XVIII, uma tentativa de “americanizar” os polinésios nativos começou. Em 1820, missionários cristãos calvinistas chegaram de Inglaterra e desencorajaram muitas tradições e práticas culturais, incluindo o surfe, fazendo com que a prática quase desaparecesse no arquipélago havaiano.
O surfe no Havaí remonta a períodos anteriores ao século XV, com registros de reis havaianos praticando a atividade de he’e nalu. No entanto, a influência dos missionários protestantes quase levou à extinção dessa prática tão enraizada na cultura polinésia.
“Mais de dois séculos de capitalismo industrial ocidental em guerra com a essência do surfe.”
Apesar desse declínio, o ressurgimento do surfe como prática tradicional está relacionado com uma reconscientização de valores culturais havaianos. Representantes famosos do esporte, como Duke Kahanamoku, são perenizados em monumentos e registros, reafirmando a importância do surfe na história do Havaí.
A cultura do surfe no Havaí e sua influência atingem diversas regiões, como o Brasil, com destaque para praias como Ipanema. O surfe é considerado parte de uma cultura global, com redes, geografia específica, revistas especializadas, competições e uma terminologia própria.
Os Príncipes Havaianos Introduzem o Surfe na Califórnia
A fascinante história do surfe na Califórnia teve uma importante contribuição dos príncipes havaianos. Em 1885, três irmãos, sobrinhos do rei Kalakaua, introduziram o esporte em Santa Cruz, Califórnia. Os príncipes Jonah Kuhio Kalanianaole, David Kawananakoa e Edward Keliiahonui, estudantes no St. Matthew’s Hall, aproveitavam os fins de semana para surfe nas ondas californianas com suas pranchas de madeira.
Esses príncipes havaíanos foram pioneiros na difusão do surfe para além das suas terras natais, levando essa prática milenar para a costa oeste dos Estados Unidos. Sua paixão pelo surfe e o domínio da técnica inspiraram uma nova geração de surfistas californios, marcando o início da cultura surfera naquela região.
“O surfe era uma prática restrita aos nobres e destemidos, com competições e combates entre a realeza.”
A chegada dos príncipes havaianos representou um momento crucial na história do surfe, impulsionando sua popularidade e disseminação pela Califórnia. Esse episódio contribuiu significativamente para a ascensão do surfe como um esporte de renome mundial.
Além disso, a influência dos príncipes havaianos no surfe na Califórnia ajudou a consolidar a imagem do surfe como um estilo de vida, com profundas raízes culturais e espirituais. Essa visão holística do esporte permanece até os dias de hoje, inspirando gerações de surfistas em todo o mundo.
Jack London e o Ressurgimento do Surfe no Havaí
Em 1907, o famoso autor Jack London chegou a Waikiki, no Havaí, onde foi apresentado ao “The Waikiki Swimming Club”. Lá, ele conheceu o jornalista Alexander Ford Hume, que o introduziu ao surfe e ao beach boy George Freeth. London então escreveu um artigo sobre o surfe, “Royal Sport: Surfing in Waikiki“, que foi publicado em várias revistas até 1911, ajudando a ressurgir o interesse pela prática no Havaí.
O Famoso Artigo “Royal Sport: Surfing in Waikiki”
O artigo de Jack London sobre o surfe no Havaí, “Royal Sport: Surfing in Waikiki“, foi um marco importante para o ressurgimento do surfe no Havaí. Publicado entre 1907 e 1911, o texto de London descreveu vividamente a emocionante experiência de surfar as ondas de Waikiki, despertando o interesse do público pela prática do surfe.
“O surf é o esporte real dos reis e rainhas do Havaí. É um esporte de deuses, pois requer equilíbrio, coragem, força e agilidade imensas.”
– Jack London, em “Royal Sport: Surfing in Waikiki”
As palavras eloquentes de Jack London celebraram a grandeza e a beleza do surfe havaiano, ajudando a difundir essa cultura milenar para um público mais amplo. Seu artigo sobre surfe foi fundamental para reacender o interesse pela modalidade no Havaí e, posteriormente, em outras partes do mundo.
George Freeth e a Promoção do Surfe na Califórnia
Em 1907, depois que o famoso escritor Jack London publicou um artigo sobre a beleza e emoção do surfe no Havaí, Henry Huntington, um empresário de Los Angeles, convidou George Freeth para ir à Califórnia e realizar uma demonstração de surfe. Este foi um golpe publicitário perfeito para promover a recém-inaugurada ferrovia Los Angeles-Redondo-Huntington.
Freeth aceitou o convite e ganhou o título de “o primeiro homem a surfar na Califórnia”. Mas seu impacto foi muito além disso. Ele também foi pioneiro na introdução de pranchas de surfe mais curtas, diminuindo pela metade o grande design de 16 pés que era comum na época. Essa inovação desencadeou uma verdadeira revolução no design de pranchas de surfe e nas técnicas de surfe na Califórnia.
“A Califórnia se tornou um dos principais centros mundiais do surfe após a chegada de George Freeth e suas pranchas menores.”
A demonstração de Freeth e sua nova abordagem ao design de pranchas marcaram o início de uma era dourada para o surfe na Califórnia. Sua influência lançou as bases para o desenvolvimento do surfe como um esporte e estilo de vida na região, contribuindo imensamente para a popularização e evolução do surfe no estado.
Estatística | Valor |
---|---|
Melhor praia da Califórnia | Huntington Beach |
Atrações imperdíveis em Orange County | Huntington Dog Beach |
Valor da entrada no International Surfing Museum | US$3 |
Custo de aulas de surfe com Rocky McKinnon | US$105 (grupo) / US$150 (individual) |
Custo de chip de internet ilimitado (5 dias) | US$65 |
Diferença de fuso horário com Brasília | 4 horas |
Meses com maior probabilidade de chuva | Dezembro a Março |
Duke Kahanamoku, o Embaixador do Surfe
Duke Paoa Kahanamoku, o lendário surfista e nadador havaiano, desempenhou um papel fundamental na difusão mundial do surfe no Havaí. Em 1912, durante uma parada em surfistas famosos na Califórnia do Sul a caminho dos Jogos Olímpicos de Verão em Estocolmo, suas demonstrações de surfe causaram uma grande sensação, superando até mesmo as de George Freeth.
Duke não apenas conquistou medalhas olímpicas como nadador, ganhando cinco medalhas, incluindo dois ouros, mas também usou sua fama em Hollywood para promover o esporte que amava. Atuando em diversos filmes e contraceando com astros como John Wayne e Henry Fonda, Duke Kahanamoku se tornou um embaixador global do surfe.
A Onda Lendária em Kalehuawehe
Em 1917, no Havaí, Duke Kahanamoku protagonizou um feito impressionante ao surfar uma onda lendária em Kalehuawehe, conhecida como Outside Castles. Ele percorreu mais de 1,6 quilômetros em uma prancha de pau-brasil de 16 pés, um recorde que nunca foi igualado.
“Duke Kahanamoku foi o pai do surfe moderno e um verdadeiro embaixador do esporte ao redor do mundo.”
Kahanamoku é considerado o pioneiro do surfe moderno e sua influência no desenvolvimento do esporte é inestimável. Sua paixão, sua habilidade e sua dedicação ao surfe no Havaí o tornaram uma lenda mundial, inspirando gerações de surfistas famosos.
O Crescimento Exponencial do Surfe na Década de 1960
A década de 1960 foi um divisor de águas para a popularização do crescimento do surfe na década de 60. Com o lançamento de filmes icônicos como “Gidget Goes Hawaiian” e “Beach Party”, o surf deixou de ser um esporte de nicho e conquistou as telas e a imaginação do público em todo o mundo.
Antes desses filmes, o surfe era visto como uma atividade underground, praticada por uma elite de entusiastas. No entanto, a projeção dada pelos filmes sobre surfe atraiu uma nova onda de adeptos, transformando o esporte em uma verdadeira febre cultural.
As representações glamorosas e descontraídas do surf nos cinemas catapultaram a popularização do surfe para o grande público. Praias que antes eram frequentadas apenas por alguns iniciados passaram a receber uma multidão de novos praticantes, ávidos por viver a emoção de deslizar sobre as ondas.
Esse período marcou o início de uma verdadeira revolução na cultura do surf, que se espalhou por diversos países e se tornou um símbolo de um estilo de vida descontraído e aventureiro. A década de 1960 foi, sem dúvida, fundamental para consolidar o crescimento do surfe como um fenômeno global.
“O surf, que antes era visto como um esporte de poucos, se transformou em um fenômeno de massas graças aos filmes da década de 1960. Foi nesse momento que o esporte ganhou uma nova dimensão e se tornou acessível a uma parcela muito maior da população.”
A Introdução do Surfe no Sul do Brasil
No início dos anos 60, os irmãos Johannpeter – Johannpeter, Jorge, Klaus e Frederico, juntamente com Fernando Sefton, introduziram as primeiras pranchas na Praia da Guarita, em Torres, marcando o início de um movimento que transformaria o cenário do surfe no sul do Brasil.
Antes disso, o surfe no Brasil já havia começado a ganhar popularidade nas praias cariocas nos anos 50, com os primeiros praticantes surgindo em Santos na década de 30. Mas foi a chegada das primeiras pranchas de fibra de vidro, vindas da Califórnia em 1964, que realmente impulsionou o esporte por todo o país.
O surfe brasileiro explodiu em 1970 com a tendência de shapear a própria prancha, e em 1988 foi reconhecido pelo Conselho Nacional de Desportos. Hoje, o país está vivendo seu melhor momento no esporte, com atletas como Gabriel Medina, atual número 1 do mundo, e Adriano de Souza competindo no World Championship Tour.
Irmãos Johannpeter e Fernando Sefton em Torres
Mas foi a ação pioneira dos irmãos Johannpeter e Fernando Sefton na Praia da Guarita, em Torres, que marcou o início do surfe no sul do Brasil. Eles não apenas introduziram as primeiras pranchas na região, mas também inspiraram toda uma geração de surfistas a seguir seus passos.
Hoje, o Memorial do Surf está localizado na Praça Zeca Scheffer em Torres, prestando homenagem a essa rica história e aos precursores do esporte na região. E com a Surfland Brasil em Garopaba construindo uma piscina de ondas artificiais, o futuro do surfe no sul do país parece brilhante.
“O surf brasileiro está no seu melhor momento com atletas como Gabriel Medina, atual número 1 do mundo, Adriano de Souza e outros competindo no World Championship Tour.”
surfe história
A história do surfe é repleta de momentos icônicos e personagens que moldaram a evolução deste esporte tão amado. Um dos episódios marcantes desse legado é retratado no documentário “Bah, Uma História Austral do Surf Brasileiro”, dirigido por Beto Souza.
O filme apresenta uma narrativa envolvente sobre as origens do surfe no sul do Brasil, resgatando momentos icônicos como o primeiro campeonato gaúcho de surfe em 1968 e a descoberta das ondas catarinenses em Imbituba. Com 32 depoimentos, imagens em preto e branco, super-8, slides e recortes de jornais, o documentário oferece uma perspectiva única e apaixonante sobre a história do surfe no Brasil.
“O documentário ‘Bah, Uma História Austral do Surf Brasileiro’ é uma viagem no tempo, revelando as raízes e a evolução do surfe no sul do Brasil.”
As imagens e relatos presentes no filme ajudam a compreender como o documentário sobre surfe no sul do Brasil se tornou fundamental para preservar e celebrar essa parte tão relevante da história do surfe em solo brasileiro.
Através dessa jornada cinematográfica, os espectadores são transportados para uma época em que o surfe dava seus primeiros passos no país, testemunhando a paixão e o entusiasmo dos pioneiros que ajudaram a estabelecer essa prática esportiva no sul do Brasil.
A Eleição do Primeiro Prefeito Surfista em Imbituba
Em Imbituba, cidade catarinense, uma história notável está sendo escrita. Michel Nunes, mais conhecido como Peninha, tornou-se o primeiro prefeito surfista eleito na cidade, marcando uma virada significativa na relação entre o surfe e a política local.
Peninha, antes de se aventurar na carreira política, era um surfista dedicado que participava de diversos eventos de surfe em Imbituba e pelo estado, representando a Associação de Surf Imbitubense (ASI) nos anos 1990. Sua paixão pelo esporte e seu envolvimento na comunidade surfista local foram fatores importantes em sua eleição.
A eleição de Peninha reflete a crescente importância do surfe em Imbituba e o reconhecimento dessa modalidade esportiva na cidade. Outros surfistas, como os vereadores Darlan Back e Matheus Gelinski, também ganharam assentos no Conselho Municipal, demonstrando o engajamento da comunidade surfista na política local.
Esse movimento representa uma tendência em Imbituba, onde indivíduos com histórico no primeiro prefeito surfista de imbituba estão se tornando ativamente envolvidos em moldar políticas relacionadas a esportes, meio ambiente e desenvolvimento da comunidade.
Nome | Cargo | Perfil |
---|---|---|
Michel Nunes (Peninha) | Prefeito | Surfista e ex-atleta de futebol |
Darlan Back | Vereador | Entusiasta do surfe e outras modalidades esportivas |
Matheus Gelinski | Vereador | Morador de longa data de Imbituba, apaixonado por surfe desde a infância |
A história do surfe em Imbituba ganhou um novo capítulo com a eleição de Peninha como prefeito. Essa mudança representa uma oportunidade única de integrar ainda mais o esporte na agenda política da cidade, promovendo o desenvolvimento da infraestrutura, das escolas de surfe e da sustentabilidade ambiental.
Conclusão
Ao longo desta jornada, exploramos a fascinante história do surfe, desde suas origens polinésias até sua ascensão global. Vimos como o esporte evoluiu, enfrentou desafios e se tornou um fenômeno mundial, influenciando a cultura e a vida de muitos. Essa história nos mostra a paixão e a resiliência dos praticantes, que transformaram o surfe em uma parte fundamental da sociedade.
Do surgimento nas ilhas do Pacífico à popularização no Havaí, Brasil e mundo afora, o surfe percorreu um caminho repleto de marcos históricos e pioneiros que moldaram sua trajetória. Desde os reis havaianos surfando em pranchas majestosas até os atletas olímpicos de hoje, o esporte sempre inspirou admiração e deixou sua marca indelével.
À medida que o surfe continua a se expandir e a conquistar novos adeptos, é importante preservar e celebrar essa rica história. Ela nos lembra da capacidade do esporte de unir pessoas, desafiar limites e inspirar gerações. À sua maneira, o surfe é uma história de paixão, resiliência e aventura que merece ser contada e recontada.
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